Policiais apontados em esquema de milícia ajudam partido de Bolsonaro
Constança Rezende
25/08/2019 07h01
Mesmo com o interrogatório marcado para o próximo dia 4 de setembro como réus num processo que respondem por organização criminosa, os policiais militares gêmeos Alan e Alex Rodrigues de Oliveira ainda fazem parte do esquema político do partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL.
Além de serem irmãos da presidente do partido no município do Rio, Valdenice Meliga, um deles, Alex, participou da campanha nacional do PSL, realizada no último dia 17, para conseguir novos filiados para a sigla. Vestindo uma camiseta amarela da campanha, com as letras do partido, Alex ajudou no ponto de Campo Grande, na zona oeste do Rio.
Fontes do partido disseram que Alex tem planos maiores no PSL. Ele pretende se candidatar a vereador pelo Rio, nas eleições municipais do ano que vem. O advogados dos irmãos, Cezar Tanner, espera que até este ano tudo esteja resolvido na esfera judicial, mas ele evita falar das pretensões políticas da dupla.
Alex e Alan foram presos preventivamente em agosto do ano passado, durante a Operação Quarto Elemento, do Ministério Público do Rio. A ação teve como objetivo prender policiais acusados de praticar extorsão contra comerciantes envolvidos em atividades criminosas no Rio.
Na ocasião, os gêmeos estavam lotados no Batalhão de Policiamento em Vias Expressas. Eles foram acusados de pagar R$ 1 mil mensais de propina a policiais civis para extrair barro ilegalmente de um loteamento na Rua Agaí, em Campo Grande, sem serem incomodados.
Alan já havia sido preso em flagrante, em janeiro daquele ano, no mesmo local, pela Polícia Federal. O órgão constatou que o terreno estava sendo preparado para a construção do empreendimento imobiliário "Gabriela Residencial", sem autorização do poder público.
Testemunhas disseram à PF que os gêmeos estavam vendendo lotes do terreno por R$ 600 mensais "diretamente com o proprietário". No local, os policiais federais encontraram um contêiner que era utilizado como "escritório" do grupo. Nele, tinham panfletos, recibos, promessas de compra e venda e até uma planta do terreno com as divisões dos lotes. O material foi todo recolhido e levado para a superintendência da PF, no Rio.
No dia 26 de abril do ano passado, policiais civis da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente voltaram ao local, no âmbito da Operação Nocaute. A ação teve como objetivo desmantelar um grupo de milicianos da zona oeste da cidade. Na ocasião, eles prenderam um homem que fazia a negociação no momento do Residencial Gabriela.
"O loteamento ilegal dos irmãos Alan e Alex ("Gabriela Residencial"), foi alvo de nova operação policial ocorrida no dia 26/04/2018, que comprovara que os criminosos, mesmo diante da diligência e prisão realizada por agentes desta Subsecretaria de Inteligência no (apenas três meses antes), voltaram a atuar exatamente da mesma forma, demonstrando total desrespeito pela Justiça. Esse sentimento de impunidade se acentua e se respalda na prática rotineira da corrupção ativa, tendo a certeza que os agentes públicos corrompidos não irão atuar de forma repressiva", disse a denúncia do Ministério Público.
Alan e Alex foram soltos no final do ano passado, por uma decisão liminar da Justiça, e respondem ao processo em liberdade. O advogado dos gêmeos, Cezar Tanner, sustenta que as denúncias não procedem e que a presunção de inocência dos gêmeos deve ser preservada.
Os policiais se aproximaram do PSL por meio de sua irmã, Valdenice de Oliveira Meliga. Ela era uma das principais assessoras do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).
Os gêmeos também participaram informalmente da campanha de Flávio ao Senado, no ano passado, dando apoio logístico nas agendas de rua. Na época, Flávio negou que tivesse relação próxima com os gêmeos. Porém, uma foto publicada em seu instagram, no dia 1 de outubro de 2017, mostrou o senador junto aos policiais, Valdenice e o presidente Jair Bolsonaro. Ela foi tirada na casa dos policiais, em Campo Grande, em suas comemorações de aniversário.
Flávio escreveu na legenda da foto: "Essa família é nota mil". A mãe de Flávio, Rogéria Bolsonaro, também comentou: "Parabéns aos meninos!! Obrigada por tudo sempre! Tj (abreviação para "estamos juntos")".
Procuradas, as assessorias de imprensa de Flávio Bolsonaro, do PSL Rio e do Palácio do Planalto responderam que não iriam comentar a reportagem.
Sobre a Autora
É colunista do UOL, em Brasília. Passou pelas redações do Estadão, Jornal O Dia e Jornal do Commercio.
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