Janot diz que chorou ao pedir prisão de Genoíno: ídolo pra mim
Constança Rezende
02/10/2019 13h42
"O dever teve que se sobrepor ao coração". Foi assim que o ex-procurador Geral da República, Rodrigo Janot, definiu o momento em que teve que pedir a prisão do ex-deputado federal e ex-presidente do PT, José Genoino.
Em seu livro de memórias "Nada menos que tudo", Janot conta que o episódio foi um dos mais dolorosos de sua passagem pelo órgão e que até chorou após o ato.
"Genoíno encarnava a luta política da minha geração e era uma espécie de ídolo para mim. Fazer uma petição que significaria sua prisão foi muito doloroso. Naquele dia, voltei para casa angustiado, e confesso que não pude conter as lágrimas, afinal, era como se estivesse aprisionando parte da minha juventude ou, em outro sentido, enterrando de vez o sonho de uma geração", disse.
A prisão de Genoino foi pedida por Janot após o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) do caso Mensalão. Ele foi condenado a seis anos e onze meses de reclusão por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Janot disse que, apesar disso, Genoíno "não enriquecera, nem se beneficiara pessoalmente no caso" e que levava uma vida modesta, na mesma casa do bairro do Butantã, em São Paulo.
"Mas eu não podia, como procurador-geral da República, simplesmente ignorar uma decisão do Supremo. Podia ter minhas convicções pessoais a respeito de Genoíno, mas não podia colocá-las acima das minhas atribuições como procurador-geral.
Janot também afirmou que, dois dias depois da decisão que culminou na prisão de Genoíno, desabafou com o então ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, ao encontrá-lo num evento.
"Foi difícil, né, procurador? Dever de ofício, né?" , ele comentou comigo. "Foi sim, ministro, dever de ofício. Mas não dá para tergiversar em relação a isso" , respondi". "O pedido de prisão do Genoíno foi o primeiro momento doloroso na minha passagem pela PGR em que o dever teve que se sobrepor ao coração", acrescentou.
Genoíno fez oposição à ditadura militar no país e atuou como guerrilheiro em organizações de esquerda. Ele participou da Guerrilha do Araguaia, uma das principais ações desenvolvidas durante a resistência à ditadura militar, e foi preso pelo Exército.
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É colunista do UOL, em Brasília. Passou pelas redações do Estadão, Jornal O Dia e Jornal do Commercio.
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